NATAL PRESS

A CIDADE DOS ARTISTAS SEM NOME. Acho que esse deveria ser o título da biografia não autorizada de Natal. Digo isso não só porque e eu não vi passar o carnaval (estava viajando no estrangeiro, no sul do continente, um lugar em que a palavra “Carnaval” é apenas uma fantasia distante de terras exóticas cortadas pela selvageria tropical).

Pensei no título para essa biografia (talvez alguém um dia possa usa-lo) quando voltei por aqui na terça feira gorda, pegando um restinho da folia. Assisti meio sem querer um repórter da TV Cabugi entrando ao vivo na programação da Globo News.

Ele, que parecia estar na Ribeira, anunciou que a animação era grande pelas ruas do centro histórico e que todos aguardavam o show de Margareth Menezes (se a minha memória não falha); mas que diversas atrações de peso já haviam passado pelo carnaval de Natal esse ano, como: Neguinho da Beija Flor; Alceu Valença, Elba Ramalho e… “Vários artistas locais”.

Sim.

Eles estavam lá.

Os artistas locais.

Na desconcertante taxionomia estética da imprensa de província os artistas são classificados em função de sua localização geográfica. Eles não são músicos, atores, poetas, escultores, quadrinistas. Eles são artistas internacionais, nacionais, regionais e “locais”.

Nesta divisão, os músicos potiguares  curiosamente não tem nome.

Não tem identidade, estilo, história, obra.  São reconhecidos apenas pela nebulosa alcunha de “artistas locais”.

Sem a dignidade do nome, que marca sua individualidade, eles sofrem uma curiosa sabotagem ontológica por parte de seus próprios conterrâneos.

Não são pessoas, bandas, orquestras, indivíduos. São uma categoria. São radical e simplesmente: “artistas locais”.
A exclusão de seu nome (muitas vezes patrocinada pela própria propaganda oficial da prefeitura) me faz pensar que talvez eu tenha razão quando penso que o Rio Grande do Norte não é um estado da federação, mas sim, um bom lugar para se esconder.



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