NATAL PRESS

“As time goes by”

Do filme “Casablanca”

Vou comprar uma ampulheta. Ampulheta é aquele treco cheio de areia, que se usava para marcar o tempo. De hora em hora, ela tinha que ser virada. Com uma vantagem sobre o relógio – não adianta, nem atrasa. A minha vai ficar deitada. Para ver se o tempo passa mais devagar. Quando era menino, minha ansiedade era chegar aos 18. Emancipação, mas o motivo real era tirar, como se dizia então, carteira de chofer. Depois dos 18, a coisa desandou, numa velocidade tal que, de repente, cheguei aos 80. E ainda bem, pois a alternativa é pior.

O New York Times de 21 de julho publica um artigo do Dr. Richard Friedman, professor de Psiquiatria Clínica do Weill Cornell Medical College, sobre essa coisa do passar rápido do tempo. Pesquisas feitas por ele mostram que essa sensação é real. Mas real ainda, quando se consulta essa passagem por decênios. Fica aí mais evidente a sensação de que, para os mais velhos, aparentemente, um decênio passa mais rápido do que para os mais jovens.

Essa sensação da pressa do tempo, desagradável mais real, já vem me enchendo a paciência há muito. Nunca tinha lido nada que viesse confirmar minha preocupação. Nem nada que a contrariasse. Mas, não resta dúvidas que essa velocidade não seria tão má, se fosse possível ser controlada. Entre outros benefícios, o de tirar do poder esses governos incompetentes que temos, com mais rapidez.

Diz ele que essa impressão deve ser causada pela diminuição de novos eventos na vida dos mais velhos. Quando você é criança, tudo é novidade. Se vive num aprendizado permanente, e esse aprendizado é, mais das vezes, lento. Aprender a nadar, andar de bicicleta, e coisas afins, leva um certo tempo. E isso lhe dá a impressão de que o tempo anda devagar.

Não se desespere, diz. Essa aparente velocidade do tempo é meramente um ilusão cognitiva, e posso lhes assegurar que há modos de demonstrar isso e deixar claro que é possível diminuir a velocidade aparente da passagem do nosso tempo.

O essencial, segundo ele, é você se manter ocupado. Ler, e ler muito. Aprender coisas novas. Manter-se ativo. E conta a história do pai. Engenheiro, quando se aposentou, não parou de sua atualizar. Lia tudo que lhe caia nas mãos. E nunca reclamou que o tempo passava rápido.

Pode ser. Eu gosto de ler. Leio do resultado do jogo do bicho às coisas sérias. Mas, que diabo, ainda assim acho que o tempo está muito apressado. Eu sei aonde ele quer chegar. Mas, para ir a esse lugar, não tenho nenhuma pressa.

Vou comprar a ampulheta. E conservá-la deitada. Quero ver o tempo passar!

Dalton Melo de Andrade - Escrevinhador



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