As últimas pesquisas, realizadas após o início da importação de médicos, apontam na direção do que este escrevinhador vem assuntando ultimamente: o discurso recheado de acusações de corrupção não está pegando contra o PT governo. Aliás, como de resto, não está pegando para os mensaleiros, nem para qualquer político envolvido com a corrupção, da oposição ou governista.

Tenho alertado que existem causas estruturais, objetivas, formadas historicamente, para explicar este fenômeno. É preciso perceber que, neste caso, o problema é duplo: com o mensageiro e com a mensagem.

Em relação ao mensageiro, o leitor há de convir que a imagem de todas as instituições políticas brasileiras (partidos, congresso nacional, governos, prefeituras, câmaras municipais), em matéria de cuidado com a ética, não é exatamente a melhor, nem a mais desejável. Sua credibilidade é zero.

Em relação à mensagem (o governo é corrupto e incompetente), relembro Mário de Andrade, em sua constatação sobre a metáfora do brasileiro como Macunaíma, o retrato cultural do povo brasileiro: índio branco, feiticeiro, mau caráter, preguiçoso, mentiroso, egoísta, gozador, capaz de rir de si próprio e de nunca perder uma piada. A acusação de corrupto nada significa para a maioria da população, até porque mente com frequência e vivencia pequenas desonestidades em suas relações do cotidiano: o jeitinho brasileiro.

Terreno bastante fértil para, frente à impunidade, florescer atos de corrupção, praticados com naturalidade, sem que sejam vinculados com a questão da ética ou com a moral vigente.

Um passo para aceitar e praticar a corrupção em geral. "Que todos nos locupletemos!"

O povo brasileiro capacitou-se a conviver "espertamente" com situações adversas de exploração, violência, corrupção, miséria moral, discriminação, desemprego, analfabetismo, utilizando-se das armas ou mecanismos psicológicos os mais diversos.

Gilberto Freire ensinou que a família patriarcal determinou toda nossa estrutura social e as relações com o poder público. Formou-se sociologicamente "uma invasão do público pelo privado, do Estado pela Família".

Ou seja, o nepotismo, o patrimonialismo e a corrupção eleitoral são culturalmente aceitos pela imensa maioria da população, como algo "natural", são instituições antropológicas da nossa mestiçagem.

Acrescente-se a isto o fato de que mais de 70% (setenta por cento) do eleitorado é formado por analfabetos funcionais (lê, mas não entende), e ainda que os milhões de excluídos possuam apenas um único compromisso, que é consigo mesmo, com sua sobrevivência cotidiana.

Lamentavelmente, a maioria do povo brasileiro é formada por lúmpens (vá ao dicionário), facilmente corruptível. A desigualdade social, no Brasil, continua sendo ainda considerada uma das mais altas do mundo.

E, sob outra ótica, relembro que a história contemporânea nos levou ao término da onda industrial, à universalização da sociedade da informação (dominada pelo grande capital internacional), aos lucros astronômicos das grandes instituições financeiras, fenômeno que fez explodir o estoque de recursos financeiros, dos quais uma boa parte tem se destinado a perigosas especulações de curtíssimo prazo.

Explico melhor: onde houver juro alto (entenderam agora o porquê dos juros altos?) o capital financeiro estará lá, apoiando o governo da hora.

Prestem atenção ao que vem agora!

Lula (e sua presidente-adjunta), muito espertamente, conseguiu obter o apoio dos dois pólos que decidem uma eleição: 1) "conquistou" grande parte dos milhões de pobres e excluídos, com políticas compensatórias, tipo bolsa-família, prouni, mais médicos, entre outros e; 2) obedeceu direitinho aos ditames da banca internacional, coordenadora da especulação; ganhando a confiança da Avenida Paulista e das grandes redes de comunicação.

Resumo da ópera: está provado que Macunaíma continua vivo e atuante, como candidato (a) ou como eleitor (a). Vai votar a favor do vento, até porque miséria não gera consciência.

Somente parte da classe média, mais bem informada, empobrecida e endividada, votará contra tudo isso.

Temo constatar que: 1) o gigante não acordou e; 2) chegou a hora da decrepitude dos sonhos e do fim das esperanças.


Perfil do Autor:
Rinaldo Barros é professor da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, desde 1988. Até recentemente ocupou a Diretoria Científica da FAPERN – Fundação de Apoio à Pesquisa do Rio Grande do Norte, onde busca contribuir para que a disseminação do conhecimento científico e a prática da pesquisa se tornem mecanismos de desenvolvimento do Rio Grande do Norte. Atualmente, é consultor e presidente municipal do PSDB, em Natal (RN).
Opinião política por Rinaldo Barros