Sou a favor dos tempos modernos. Em tudo. Hoje em dia, por exemplo, essa moçada tem um relacionamento sensacional. Vive e convive de forma total e aberta. Se conhecem intimamente e antecipam os acontecimentos com a maior naturalidade. Não chego a dizer que me causam inveja. Sou de outro tempo e outros costumes. Mas, aceito, convivo com, e até admiro, esses novos relacionamentos. Novos para nós; e já não tão novos, pois, na verdade, não são de hoje e já ocorrem há algum tempo.

Cinqüenta anos atrás (1965), para mim, esse comportamento era uma novidade total. Tinha um bom amigo, Dal Symes, na Utah State University, onde fiz o meu mestrado. Era professor de Inglês. Quase todos os dias batíamos um papo, tomávamos um café e fumávamos um cigarrinho (naquele então eu era fumante). Como todos sabem, Utah é o berço do mormonismo. Beber (mesmo café), fumar, são coisas proibidas. (Poligamia não era, hoje é, por lei federal. Agora mesmo, jornais informam que o papa maior dessa religião tinha quarenta esposas. Visitei a casa onde morou, em Salt Lake City; cabia as quarenta). Só havia dois lugares no campus da Universidade onde você podia tomar um café ou fumar um cigarro. No “Bluebird”, um café privado; ou no ROTC (o CPOR de lá) onde, por ser um prédio federal, as proibições locais não valiam. Coisas de americano. Ao relento, só no verão; no inverno, se chega aos 25o. abaixo de zero. Na primavera e começo do outono, com um pouco de coragem, ainda dá.

Symes convida-me para passar um fim de semana em sua casa, que ficava nas montanhas perto da cidadezinha – Logan -, naquela época com 15 mil habitante, dos quais sete mil viviam na, estudantes, ou da Universidade, professores e funcionários. Sertão de Utah. Sabia de sua casa, pois sempre falava dela; era feita de troncos de árvores, estilo faroeste, que dizia confortável. Aceitei o convite e a casa preencheu nossas expectativas. Confortável, bela paisagem, um show.

Cheguei lá, com a mulher e dois filhos, final de uma sexta-feira. Recebeu-nos com uma cordialidade que não me surpreendeu, pois o conhecia. E, surpresa, apresentou-me uma jovem, simpática e bonita (se pode ser bonita sem ser simpática), que nos recebeu também efusivamente. Minha noiva, disse. Estamos vivendo juntos há dois anos e, se der certo, nos casamos. Eu e Ione nos entreolhamos, meio espantados. Mas, cabrito bom não berra. Aceitamos o fato com a maior tranqüilidade e passamos a conviver ainda mais intensamente com o casal, até nossa volta para cá. Quando saímos, ainda não haviam casado, nem tinham filhos. Depois, perdi o contato e não sei se casaram ou não.

A meninada de hoje pratica essa “experiência” por aqui. E faz muito bem. Melhor conhecer bem, que remediar posteriormente, com todas as dificuldades legais e, para alguns, também religiosas. Na minha opinião, apenas um senão: desde que não tenham filhos.