Poderia até dizer que perdi a conta, pelo número de desfiles de Sete de Setembro que já assisti, e até mesmo participei. Ultimamente, os tenho visto da minha janela. E ainda me emocionam. E não é por conta da idade; é lembrança do passado, esperança no futuro, e crença no nosso povo e no país.

Este ano, duas coisas me surpreenderem positivamente. O garbo da nossa Polícia Militar e a lembrança dos desfiles do meu tempo, especialmente do tempo da guerra. Estava em plena adolescência, no auge da II Guerra, e todo aquele clima nos fazia vibrar de patriotismo e emoção.

Lembro-me que, em alguns anos, a partir de 1942, soldados americanos participavam do desfile. Marchavam com garbo e entusiasmo evidente, junto às nossas tropas. Aliás, vou aproveitar a lembrança para tentar desmanchar um equívoco no ótimo DVD da Fundação Rampa sobre esse tempo. Há uma informação totalmente equivocada de que as tropas americanas haviam corrido e se escondido nas casas vizinhas diante de um vôo rasante de aviões sobre o desfile. Isso nunca houve, o que posso afirmar como “testemunha ocular da história”. Mesmo sem ser o “Repórter Esso”.

Tomei parte nesses desfiles muitas vezes, desfilando pelo Atheneu. Todas as escolas de Natal participavam. E havia sempre uma sadia rivalidade para ser a melhor. O Atheneu “brigava” sempre com o Colégio Marista que, diga-se, era tão garboso quanto nós. São lembranças que felizmente não desaparecem. Em plena guerra, o Atheneu chegou a desfilar com a guarda à Bandeira armada de fuzis. Bons tempos.

Tempos de guerra, tínhamos até aulas de “Instrução Pré-Militar”. Teoria, sobre armamentos, disciplina e coisas que tais; e prática, ordem unida. De madrugada, cinco e meia da manhã, se não me engano, uma vez por semana. Preguiça danada; morava na Rua Açu, perto da Hermes da Fonseca. Saia de casa as quatro e meia, a pé. A rua era areia solta e chegava ao velho Atheneu quase na hora da aula. O professor, Sargento Dário. Usava pêra. Boa gente, mas duro, disciplinador, sargento.

Voltando à 2014. O desfile da Polícia nos mostrou uma tropa bem preparada, bem equipada, e numerosa. Fiquei pensando com meus botões. Por que a gente só vê esse poderio no desfile? Por que não os vemos no dia a dia, nas ruas? Certamente deve haver razões que desconheço. Mas não desconheço que, estivessem espalhados no diuturno da cidade, teríamos muito menos problemas de segurança. Valeria ouvir uma explicação de seus chefes.

Daqui do alto, dá para acompanhar todas as tropas passando pela minha janela. E outro ponto que quero destacar, e de forma muito positiva, é a participação de mulheres. Em todos os destacamentos. Desfilando tão bem e com tanta elegância quanto os seus companheiros. Até, diria, mais elegantes. Pelo menos para o meu gosto. Belo espetáculo. O que também me faz lembrar que as escolas de meu tempo já desfilavam com as suas estudantes. (Nossa presidenta provavelmente diria estudantas). Minha mulher, por exemplo, desfilou pela sua Escola Normal e foi porta-bandeira, final dos anos 40, começo dos 50.

Portanto, só me resta congratular os organizadores do desfile, as tropas participantes, e agradecer pelas lembranças que me trouxeram e as emoções que renovaram.

Este artigo era para sair na semana passada. Mas, ainda está em tempo. É que a decisão na Escócia, no dia 18/9, era mais premente. E, felizmente, como previ então, o bom-senso prevaleceu. A União ganhou com boa margem.