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Não sei se você já passou por essa situação de ter de escolher entre o todo ou a parte, de decidir entre uma pessoa só ou um conjunto de pessoas. Ou por outra, se você já prestou atenção na situação de presidente de um clube de futebol que teve de decidir entre o técnico ou o time todo. O técnico é muito bom, já deu várias vitórias ao clube, é um sujeito inteligente, pode ser considerado até um “boa praça”, mas está criando problemas para o presidente do clube no campo do relacionamento pessoal. Já criou caso com um dos craques do time, ou melhor, não teve o discernimento necessário para administrar uma pequena quizumba, um leve atrito com um dos principais jogadores do time. De uma pequena rusga, o problema virou um problemão, jogando na área da discórdia irrecorrível todo um passado de companheirismo e convivência diária. Ninguém sabe o que se passa na cabeça do técnico.

Fechado, macambúzio, a cada dia mais isolado, ele tenta se mover, tenta escalar o time para entrar em campo, mas o clima está pesado. Já tem jogador até se recusando a entrar em campo, outro já iniciou conversa com um time adversário, enquanto um terceiro já declarou que quer o cargo do técnico. Ou seja, quer disputar com o técnico, junto ao presidente do clube, o cargo, a primazia, a condição de comandar o time. Situação difícil, não é? Vamos supor que, no exemplo acima, você seja o presidente do clube. Como você agiria? A situação está insustentável. O campeonato corre solto, os outros times estão se fortalecendo, contratando, conversando, se articulando..... O tempo passa e a situação a cada dia fica pior. E agora, o que você vai fazer? Você vai defender o técnico contra todo o time, ou vai dispensar o técnico para salvar “o restante da pátria?” A História nos mostra, em períodos diferentes, a réplica de situações semelhantes à que acabo de trazer à sua meditação.

E, na maioria dos casos, o responsável pelo time termina sendo obrigado a optar pela manutenção do time em detrimento do técnico. Mesmo lamentando a situação, mesmo sentindo de forma intensa a perda do auxiliar, do companheiro, do filho, do irmão. Você também optaria por essa alternativa? Essas divagações me vêm agora a propósito de algumas pessoas que estão na posição de príncipes imaginando já serem reis. E metem as mãos pelos pés no tocante a um item importantíssimo na vida de qualquer pessoa – principalmente dos que estão em posição de comando: a questão do relacionamento pessoal. É muito difícil você conquistar e manter com sucesso um cargo de liderança se você não valoriza esse lado fundamental da vida. Vivemos em comunidade, precisamos dos outros, principalmente dos amigos. Para complicar a análise dessa história, você precisa ficar sabendo que todos nós nascemos para exercer função de liderança.

O homem não nasceu para ser subalterno, submisso. Conseguir de alguém uma postura de submissão é algo a se conquistar – ou então se impor pela força. Neste último caso, os resultados já são conhecidos pelo suceder da história. Jesus Cristo, certo ocasião, dirigiu-se a Deus em oração, agradecendo ao Pai porque “dos amigos que Tu me deste eu não perdi nenhum, salvo o filho da maldição” (se referindo a Judas). Pois é, Jesus valorizava demais os amigos que conquistava – e mantinha. Em certas ocasiões a um custo altíssimo, como foi o caso do próprio Judas a quem fez tesoureiro de seu ministério, homem de sua inteira confiança, mesmo sabendo de seu caráter que variava da adoração momentânea à revolta latente pelos lucros e vantagens que pensava auferir ao se unir ao Mestre e que, com o passar dos dias, não via se concretizar. Outro foi Pedro que, como todos sabem, traiu a Jesus três vezes seguidas – numa noite só.

É interessante se notar que, ao ressuscitar, Jesus se referiu aos demais apóstolos como seus irmãos, mas a Pedro ele se dirigiu pelo nome. Você talvez esteja afirmando ser muito difícil se fazer de Jesus para manter suas amizades. E realmente é. Nem eu estou pretendendo tal coisa. Acontece que tem gente que recebe uma herança de mão beijada e – praticando um dia-a-dia de arrogância e menosprezo pelos outros – consegue deixar escapar pelas mãos um leque de amizades que lhe dá a sustentação necessária à manutenção do cargo que ocupa. São pessoas, portanto, inaptas para funcionarem como príncipes, mesmo tendo chegado ao posto pelos laços de parentesco com o rei. Mas ao rei cabe decidir se troca todo o seu reinado por um príncipe, ou se, em última instância, começa a ruminar, a articular, em seu silêncio e solidão palacianos, a saída política mais favorável, menos traumática. Aliás, você precisa tomar uma decisão, lembra-se? Afinal, vai optar pelo reino ou pelo príncipe?

Públio José – jornalista