Quando leio os jornais do dia, acompanho os malfeitos que nos perturbam, os ataques, mais das vezes merecidos mas muitas vezes exagerados, aos governos e políticos, me vêm a lembrança assuntos dos quais participei. Nem sempre o que se diz e se faz representa a realidade.

Quem está na chuva é para se molhar, diz o velho ditado. Foi o meu caso, quando aceitei ser Secretário de Educação no Governo Cortez Pereira. E não fui inocente. Já sabia dessa possibilidade, especialmente num momento de política um tanto acirrada. Mas, há criticas positivas, que você pode e mais das vezes deve aceitar, e há as negativas, que só procuram desgastar o criticado.

Para quem é bem intencionado, que quer dar o melhor de si pela comunidade, as criticas muitas vezes são injustas e, algumas vezes, justas, mas não entendidas. Passei por essa experiência, e comento apenas duas que me permanecem na memória. Uma, critica positiva, importante, e que me deu a chance de mostrar abertura e flexibilidade, reconhecer e corrigir o erro e, no contexto, descobrir amigos que intervieram para ajudar. E como ajudaram, mesmo sem ter um relacionamento estreito comigo. Mas, depois disso, se tornaram amigos de infância.

O primeiro caso foi mais grave. Era um processo iniciado para o aumento dos professores – sempre com seus salários defasados - e que buscávamos corrigir. O cálculo era feito por hora/aula, Tínhamos, como acho que ainda hoje há, professores que não eram em tempo integral e recebiam por hora. Um grupo interno fez os cálculos necessários, preparamos a mensagem à Assembléia Estadual, que foi encaminhada pelo Governador.

Um deputado mais atento, não me lembro quem, fez as contas e descobriu que alguns professores iriam ganhar menos do que estavam recebendo, e fez um estardalhaço, com razão. Refizemos nossas contas e ele tinha razão. Fomos procurados pelo Presidente da Assembléia, Moacyr Duarte e, com a ajuda de técnicos do Tribunal de Contas, cedidos por Romildo Gurgel, corrigimos o problema e reenviamos a proposta, agora acertada. E aprovada.

Moacyr, me vendo angustiado, me deu uma lição que não esqueci. Dalton, disse, você é novo nessas lides e tem que se acostumar, para deixar de sofrer. Tem que criar um “couro grosso”, que o proteja das criticas, mesmo justas. Eu, macaco velho, tenho o couro tão grosso que até as farpas mais violentas resvalam e não me atingem.

Aprendi, pois a segunda critica, injusta, me atingiu, mas muito menos. Os colégios do Estado não tinham uniformes padronizados. Cada escola tinha o seu próprio. Saia ou calça azul marinho, camisa ou blusa branca; saia ou calça verde, camisa, blusa, branca; todo branco; e alguns nem uniformes tinham. Um aluno que saía de uma para outra escola, muitas vezes, era obrigado a comprar nova farda. Um absurdo.

Resolvi padronizar e, como a maioria usava o azul, optei por essa cor. Houve reclamação (sempre há). O jornal da oposição, sempre ácido, insinuou que a mudança era para apagar a lembrança da esperança verde de Aluízio, o que nem sequer tinha passado pela minha cabeça. Respondi como devia e mantive minha decisão. As razões da padronização e da economia das famílias foram deixadas de lado pelos críticos. Com o couro mais grosso, isso ainda me afetou, porém bem menos. No final, o jornal parou de me azucrinar e até a me apoiar em outros momentos. Briga de família.

Essa foi uma experiência que muito me ensinou e que, hoje, me leva a pensar duas ou mais vezes antes de aceitar tudo o que dizem os periódicos. O velho grão de sal.