Coisas que me completam o viver: ler, escrever, música, conversar. E, nesse caso, a ordem dos fatores não altera o produto. Há ainda há outras coisas boas que nos ajudam a viver, claro, mas essas são essenciais.

Ler é um prazer solitário, que se torna público quando você comenta com alguém. Sou um leitor ávido. E de tudo que me chega às mãos. Tenho minhas preferências. História, é o que mais leio. Do Brasil, e da II Guerra Mundial, acho que por motivo óbvios; sou brasileiro, e acompanhei de perto, dado a situação de Natal, os acontecimentos da guerra. Gosto de ler sobre economia, matemática (sem ser ou saber muito do assunto e por mera curiosidade) e astronomia (também). Não desprezo uma biografia. De vez em quando, para quebrar a rotina, figuras como Oscar Wilde, Stanislaw Ponte Preta, Vinicius de Morais e outros que tais. Neste momento, estou relendo livros que gostei. Terminei os de Érico Veríssimo, especialmente os sobre os EUA e sua autobiografia. Trabalhou na OEA, como eu, e tinha alguns amigos, que menciona, e que foram meus amigos. Recomecei Gilberto Freire.

Escrever me dá muita alegria. Este jornal já publica meus artigos há vários anos. Estou juntando um número deles, que pretendo editar e lançar em abril. Até já escolhi o nome, que informo aqui pela primeira vez – “Meu Olhar sobre a Vida”. Gosto, claro, quando ouço comentários sobre o que escrevo, mesmo críticos. Às vezes, os recebo por email. Gosto mesmo quando encontro alguém, nos restaurantes, supermercados, na rua, que vêem me dizer que leram e gostaram dessa ou daquela crônica. E alguns dizem, publique um livro; vou fazer isso.

Música é o meu passatempo predileto. Só não ouço essa música maluca e barulhenta que alguns adoram. Sou do tempo do jazz, da bossa nova, do samba civilizado de Noel e Cartola, Dolores Duran. E música clássica. Esta é a que mais ouço. Não, não é pedantismo, é que gosto mesmo. Tenho as minhas preferências, claro, mas aprecio todos os gêneros, e não dispenso algumas árias de algumas óperas. E toco piano. Mal, pois nunca tive educação formal. Aprendi sozinho, sei que toco mal e só lendo a partitura – não tenho paciência para decorar – mas me divirto. Tenho o cuidado de não dar concertos e toco baixinho, para que os vizinhos não venham querer me escutar. E aí ficaria inibido.

Conversar! Ah! Que coisa mais gostosa. Sou um sujeito feliz, pois convivi com figuras inesquecíveis, com os quais me encontrava constantemente. Quase todos os sábados nos reuníamos na casa de um de outro, tomávamos um aperitivo e íamos almoçar. Nas sextas, sempre íamos juntos a algum restaurante. O tempo, infelizmente, é inexorável. Alguns nos deixaram, a dificuldade de locomoção chegou, a insegurança nos espanta, e a saudade só é quebrada, dos que ainda estão por aqui, pelo telefone, por email, e ainda, de vez em quando, um encontro pessoal. Eram conversas ecléticas, muitas vezes ruidosas, mais das vezes críticas e contestatórias, pois tínhamos, cada um, suas preferências pessoais, respeitadas, mas sempre contestadas. Tempos bons.

São essas lembranças, essas ações, esse comportamento, que nos fazem viver bem, nos manter com a cabeça em ordem, espantar o Alzheimer, e esperar chegar aos 163 do fundador do “Old Parr”. Sua receita: uma dose antes do almoço e outra antes do jantar. Sigo à risca. E recomendo.