Meu amigo Aurino Araujo está escrevendo sobre a Ribeira, nas crônicas que publica na Tribuna do Norte, substituindo a sua tradicional coluna sobre o fusca.

Como ele, vivi na Ribeira da minha infância até 1964, estudando, Colégio Pedro II (depois Ginásio Ruy Barbosa), e trabalhando com meu pai. Conheço um pouco da história do bairro e conheci muitas das figuras interessantes que o povoavam. Principalmente as folclóricas.   

Delas, a mais conhecida e comentada era a de Zé Areia. Meu tio Veríssimo de Mello (Viví), escreveu um livreto sobre ele e suas estórias. Tinha aqui nos meus alfarrábios, procurei e não encontrei. Poucas páginas. (Alvamar dizia: Viví, seus livros não se põem de pé. Ao que ele respondia: Alvamar, você é escritor de um livro só). Vou contar três estórias de Zé Areia, todas com o Deputado Djalma Marinho, que acho era seu compadre.

Pediu cinquenta cruzeiros emprestados à Djalma. O tempo passou e não deu mais notícia. Djalma encontra com ele na Tavares de Lyra, e cobra: Zé, se lembra que me deve cinquenta? Lembro. O senhor tem cinquenta aí? Djalma puxa a carteira, certo de que ia receber cem; ele recebe os cinquentas e diz: Compadre, agora lhe devo.

Alugou uma casa e pediu a Djalma para ser seu avalista. Djalma concorda. Meses depois, o dono da casa encontra o Deputado e diz: doutor, o homem está com seis meses de atraso. Djalma: vou falar com ele. Encontra Zé Areia e diz: Zé, o dono da casa veio me cobrar o aluguel. O senhor pagou? Não. Doutor, lembre-se que o senhor é meu avalista.

A terceira. Djalma, que cortava o cabelo com ele, diz que vai à Roma e vai ver o Papa. Zé Areia pede. Doutor, traga uma benção do Papa para mim. Djalma concorda, mas esqueceu. Quando voltou, Zé cobrou. Trouxe a minha benção? Zé, confesso, não tive coragem de pedir. Quando eu fui entrando para cumprimenta-lo ele foi logo se antecipando e dizendo: Peregrino, Peregrino, quem foi o fdp que cortou o seu cabelo? Dessa vez, a última palavra foi mesmo de Djalma.