NATAL PRESS

Confesso que já nem sei quem sou.
Me chamam de Pedra do Navio, de Pedra do Cruzeiro, Pedra do Mirante...
Dizem que eu tenho mais de 500 milhões de anos. Que já fui margem de rios que corriam banhando-me com águas livres da poluição que hoje me circunda.
Acho bonito quando dizem que sou uma feição magmática/ígnea tabular em posição vertical. Um pegmatito. Uma rocha plutônica rica em minerais vários de cores e brilhos que me emprestam uma beleza única.
Envaidecido fico quando fotografado, em ângulos e formas diferentes.
Em uma foto abaixo Alex Gurgel me mostra de um ângulo na qual lembro um navio, singrando caatingas e despertando lembranças que justificam meu primeiro nome. Pedra do Navio.
A lua me empresta a luz que me é negada pelos homens. #cruzeiroiluminado
Em outra foto de autoria de Carla Belke, eu ressurjo no amanhecer emoldurando um sol que já surge abrasador, ardente, desquitado de nuvens e que não é ainda o céu sonhado pelo sertanejo castigado pelos efeitos da seca, mas que mesmo assim é belo e reacende a esperança e a fé, depositada aos meus pés pelas diversas religiões, e eu me presto ao serviço de depositário de preces. Talvez por ser ecumênico, talvez por ser um exemplo de resistência ao tempo ou, que quem sabe talvez, por estar mais perto dos céus.
Fico triste quando abandonado pelos homens. Quando fico no escuro e não cumpro o meu papel.
Fui tombada pelo Patrimônio Histórico, iluminada, e orgulhosa fiquei, pois estava ali cumprindo o meu papel ecumênico, histórico, contemplativo, testemunhando promessas feitas, graças alcançadas, juras de amor e por que não dizer, de atos irresponsáveis de uma juventude sem rumo, abandonada pela falta de compromisso de uma sociedade injusta.
Que pena que a minha importância não justifique uma iluminação que não seja a do sol e da lua.
Que pena que eu não possa receber visitas à noite nem ser contemplada dos diversos pontos da cidade que eu guardo.
Sigo feliz por ser iluminada pelo Senhor, pelo Sol, pela Lua mas, me confesso triste por permanecer na escuridão dos homens...
(Celso Cruz)



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