Ano novo, nova vida. Lembranças. Entre as coisas relativamente novas, o uso de meios de pagamento. Hoje, sem cartão, você não sai de casa. Nem viaja. É o dinheiro moderno. Mas, claro, não era assim. Sou do tempo em que você tinha que andar com dinheiro no bolso.
Quando fui estudar nos EUA, meados dos anos sessenta, cheque por lá já era o instrumento básico para seus pagamentos, em todos os lados. No Brasil, dinheiro no bolso ainda era a solução. Quando voltei aos EUA, começo dos setenta, os cartões já tinham impacto relativo, mas ainda ao lado dos cheques. E o dinheiro não havia sumido. Hoje, ninguém usa dinheiro.
O império dos cartões já está ocorrendo por aqui. E os cheques vêm sendo substituídos com rapidez. Mas, ainda vemos excrescências como “não aceitamos cheques”, em algumas lojas e, especialmente, postos de gasolina. Até se entende, pois a safadeza aqui, se não é a regra, é quase. Um problema de princípio. Nos EUA, você é honesto, e aceito como tal, até prova em contrario. Por aqui, você é considerado desonesto de saída, e tem que provar que é honesto. Uma enorme diferença. Daí, a desconfiança inata do seu cheque.
De uma geração que usava dinheiro para tudo, me adaptei rápido ao uso de cheques e cartões. Hoje, como diz uma propaganda que anda por aí, “não saio de casa sem eles” – cartões. Aliás, o meu primeiro cartão, que tenho até hoje, é de 1964. E minha primeira grande lição, que aprendi depois que voltei de Washington, foi numa viagem ao Rio, com um colega e bom amigo da UFRN.
Almoçamos em um restaurante qualquer, num shopping desses, e ele pagou a conta com um cheque de Natal – e o restaurante aceitou. Isso foi quase quarenta anos atrás. Minha surpresa foi tão marcante que até hoje ainda me lembro. Foi um retrato das mudanças que andavam por aqui e que, normalmente, por evoluírem gradativamente, não surpreende. Você vai se habituando e nem sequer nota a diferença. A não ser quando você estava fora, onde isso era comum mas você não esperava encontrar aqui, e é surpreendido com a novidade, o meu caso.
Por que me veio tudo isso à cabeça? Porque, outro dia, ainda refletindo antigos costumes, perguntei numa loja, posso pagar com cheque, cartão ou dinheiro? Nós preferimos cartão, mas o senhor é quem decide. O cartão é o dono da bola. Para o usuário é um instrumento seguro, ágil e fácil de usar. Para o comerciante, idem. Com a vantagem de você poder parcelar a compra, aceitável desde que não incluam juros. Ou no pagamento do cartão – o que não recomendo, pois os juros são extorsivos. Mas, ainda há alguns que chegam ao exagero de não aceitar cartões!
Os cartões são os adereços financeiros mais apropriados e seus companheiros de viagem mais flexíveis e seguros. Quando fui à Europa a primeira vez, usava um cinto com bolsos para “esconder” o chorado dinheirinho que levava (não era na cueca). Não mais. Além do que, sem cartão, os hotéis relutam em lhe receber.