NATAL PRESS

Venho relendo Érico Veríssimo. Agora, estou em pleno “Volta do Gato Preto”, que são lembranças de seu tempo como professor visitante da Universidade da Califórnia. Como sempre são seus escritos, interessantes e divertidos. Encontrei uma estória que me lembrou uma acontecida comigo aqui em Natal. Embora semelhantes, as motivações foram diferentes. Conto a dele.

Enquanto procurava uma casa em Hollywood, hospedou-se em um hotel, cujo ascensorista lhe contou sua vida. Perguntou-lhe, um dia: já ouviu falar de Manolo Alba? Foi um grande tenor e ator espanhol. Sou eu. Vim parar aqui, fugindo de Franco, e não consegui emprego de ator, por não ser membro do Actor’s Guild, o sindicato dos artistas. Já fiz de tudo, mas não me aceitam como sócio. Por isso, estou preso aqui nesta gaiola. Já me disseram até para desistir. Mas me deram uma esperança – se eu conseguir uma carta de um produtor dizendo que vai me contratar, me associam.

Veríssimo gostou da figura, já com certa idade e que lhe mostrou diversos programas em que foi protagonista principal, por toda a Europa. Não prometeu nada, mas disse que ia ver se podia ajudá-lo. Como conhecia um produtor que se tornara seu amigo, resolveu conversar com ele e pedir a tal carta. O produtor chamou a secretária e disse: Érico vai lhe ditar uma carta; prepare e traga para eu assinar. E não titubeou. Assinou-a sem pestanejar. E fez a felicidade de Manolo. Que agradeceu: “Bendita la madre que te puso en el mundo”. O que me fez lembrar a forma educada que usam em castelhano para chamar alguém de fdp: “Hijo de una mujer que ha olvidado a los buenos consejos de su madre”.

Conto a minha estória. Nos meus tempos de Universidade, conseguimos apoio da SUDENE e da USAID para desenvolver o Projeto RITA (Rural Industrial Technical Assistance). Juntava a nossa Universidade à USU – Utah State University. O RITA pretendia desenvolver assistência técnica e promover criação de indústrias na área rural. Ao mesmo tempo, treinaríamos estudantes de Engenharia e Economia no preparo de projetos, e apoiaríamos empresários a montar essas indústrias. Viriam, e vieram, professores e estudantes americanos para trabalhar conosco aqui e iriam, e foram, professores e estudantes daqui para estudar e especializar-se nos EUA. Desse trabalho surgiu depois o PRUDERN – Programa Universitário de Desenvolvimento do RN – depois transformado num Núcleo de Apoio à Pequena e Média Empresa, já no Banco do RN, e que foi a semente que levou a instalação do SEBRAE por aqui.

Tudo pronto, SUDENE e USAID dando o apoio necessário, só faltava a concordância do Estado, sem o qual a SUDENE nada faria. Naquele momento, havia uma certa dificuldade no relacionamento da Universidade com o Governo. O Reitor, Dr. Onofre Lopes, me disse que resolvesse o problema. Chamei meu colega e amigo, que participaria conosco do RITA, Antomar Ferreira de Souza, amigo de Aluisio Alves, e fomos falar com ele para pedir a tal carta. Não teve dúvidas. Chamou sua secretária, Yvonne Barbalho, e disse: Dalton vai ditar um ofício para você. Prepare e traga para eu assinar. Também não titubeou. Com isso, o programa foi efetivado e deixou ótimos resultados. E uma dificuldade entre os dois dirigentes não prejudicou o Estado. Espíritos superiores.



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