Tua beleza me leva quando passas.
E vou no meu olhar desenhando devagar
Os carinhos dessas linhas de seda.
Tão minhas quando o meu olhar se desmaia
Em viagens por onde a manhã era só minha
Porque a tua presença me exilava dos presentes.
E assim me demoro nessas horas de espera.
Até que outro sonho me diga suavemente:
Ela vem! vem novamente trazendo a manhã...
aos que resistem.
Meu rio. Tão grande. E antes com norte.
Meu rio grande. Meu sítio sentimental.
Meu torrão que ouviu ao longe o vagido.
De que jardim brotou a rosa da má sorte?
Na lousa, o giz de sangue firmou a desilusão.
Corpos esticados são contados no chão.
As lágrimas caem na vala aberta da morte.
Gritam: mil homicídios! A saúde agonizante.
A criança traz no peito ferido o triste recado.
Em casa, assiste aos pais falarem do passado.
O mestre de ontem morreu e o de hoje agoniza.
A tristeza invade o nosso rio grande por todo canto.
Atabalhoada a rosa louca só mostra o seu espinho.
E o homem vai morrendo um pouco em cada pranto.
As rosas não me negam o espinho vizinho.
É o desejo que se acalma na beleza
E não encontra, o olhar, a maldade....
Nem me desanima a lágrima,
Quando meus olhos estão além dos jardins.
Eu te quero quando alcanço a canção de tua alma.
E te quero mais quando somos na frase musical
A melodia que nos encanta, a voz que nos embriaga.
Francisco de Sales Felipe
Manhã, 16 de agosto de 2013.
Tenho comigo guardado um silêncio de cais em fim de tarde...
Eu, a entonação do vento no litoral.
O mar vem trazendo canções adormecidas...
Tramando no frio, fio a fio, viagem devagar.
Anoitecer? Ainda não!
Deixai no cais aquele barco chegar...
Quando a distância te fez ausência,
Vi no chão da gente os retalhos de abandono.
As tuas mãos foram exiladas naquelas taças.
E silenciosas se esqueciam das noites de vinho.
O teu rosto foi levado pela última dalva daquele tempo.
E só me revisita nas madrugadas de saudade.
Os lençóis ainda hoje guardam as marcas líquidas
Daquele amor intenso: meu sudário de lembranças.
Eu desenhei tua imagem nas velas pandas que voltam...
E pescador paciente sou. É tarde, mas ainda estou no porto.
Descia um rio dentro de mim.
Da nascente à foz, o meu olhar
Colhia a triste imagem do exílio das flores.
Exiladas do ramalhete desfeito
Pelo curso trôpego das águas que desciam.
Mais adiante, quis enxugar a aflição
Das flores que choravam a incerteza do destino.
E vi no silêncio do monento duas lágrimas
Descendo naquele rio dentro de mim.
O mesmo amor
Quando teus olhos derramavam confissões,
Aprendi silêncio. E assim estavas comigo.
Quando distante deles, a tua ausência sentia,
Aprendi solidão. E assim ficava contigo.
O tempo, de mim, levou aquele olhar
E vai me devolvendo o amor daquela luz
Dos teus olhos nos meus arrebatando
O amor de antigamente nesse amor presente
Que vivemos agora com a glória de amar sempre
Com o mesmo lindo amor dos primeiros dias.
Quem parte só leva a bagagem de mão.
De ti, ficou o lugar onde sonhamos.
Nele, permanece ainda aquela porção de seda.
Aquela que desce só pelo desejo.
E as fantasias – os nossos jardins de rosas brancas,
Que agasalhavam nossos corpos nas horas de amor,
Agora são lembranças guardadas
Porque na despedida elas não cabem
Na tua bagagem de mão.
à Ana Cláudia Machado de Melo
Entre minha transpiração e os teus murmúrios
Havia um cetim cedendo ao carinho.
Quanto mais a lira dos nossos corpos vibrava
Tanto mais se despia esse sonho antigo.
E tão devagar era essa cantiga
Que o tempo era marcado
Apenas quando teu olhar dilatado
Confirmava o êxtase desse bom demais.
O tempo passou levando aquela madrugada.
Mas ainda hoje o sonho se renova
Quando vejo no céu a mesma lua
Que vestia teu corpo enquanto eu te despia.
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