Toma este pedaço de pano. Molha no azeite do tempo.
Quero ver mais uma vez no teu pavio as chamas do ontem.
Vem comigo meu bom candeeiro. Nas madrugadas passadas,
Sempre foste a minha luz iluminando o meu silêncio e meu estudo.
Vim juntar, companheiro, teus fragmentos aos meus desencantos.
Vê , agora, pelo teu abajour o meu rosto assombrado e cansado.
Ainda há pouco, sonhador, quis azul o céu cobrindo as manhãs.
Naquelas horas, nós dois apenas esperávamos o raiar do dia .
Esquecemo-nos que existe a maldade amortalhando o homem.
Nesse sótão de poeira e solidão, vejo, tristemente, teus nacos.
Bem sei, confesso-te, a razão por que ambos estamos assim.
Não. Não foi a passagem do tempo o algoz desses escombros.
Foi, sim, a visão habitual de um mundo que corre para a morte,
Machucando e ferindo, cegamente, as entranhas da honra.


Natal, Primeiro de novembro deste.