Dia desses, escrevi aqui uma análise sobre o caráter do povo brasileiro. Busquei âncora no personagem "Macunaíma", o herói sem nenhum caráter, criação máxima de Mário de Andrade para simbolizar a essência psicológica que compõe a argamassa histórica e social do povo brasileiro.

Ou, como diria Freud (1856 a 1939), pai da Psicanálise: "instaura o superego coletivo que dá origem à cultura e à identidade de uma nação".

Pois bem. Nestes tempos perigosos, com a corrupção endêmica e numa sociedade sem governo; um amigo pediu-me para escrever sobre a atual realidade das relações entre os políticos, no afã de consolidarem as "alianças" para as próximas eleições. "Alianças", nas quais a desconfiança mútua reina absoluta. Sabem do que são capazes…

Sem querer ofender nem atacar quem quer que seja, apresento hoje uma pesquisa qualitativa do IBOPE, cujo resultado constata que Macunaíma, disfarçado de "jeitinho" ou de "lei do Gerson", povoa o mundo político, aqui no patropi.

Não é à toa que as CPIs quase sempre acabam melancolicamente em pizza, e sem provocar qualquer comoção na sociedade. Tudo está dentro da "normalidade", com exceção da Operação Lava Jato.

Pois bem. Uma pesquisa inédita do IBOPE revela que o eleitor brasileiro é conivente com a corrupção política e que a falta de ética não é um problema apenas da classe dirigente: 75 (setenta e cinco) por cento dos brasileiros afirmam que cometeriam um dos atos de corrupção listados na pesquisa se estivessem no lugar dos políticos denunciados.

Ora, "ao imaginar que poderia cometer um desses atos, o eleitor provavelmente é tolerante com o político que o fizer", explica a cientista social Sílvia Cervellini, diretora de Atendimento do Ibope Opinião, responsável pelo trabalho.

O estudo revela também que a transgressão de leis para obter benefícios materiais pessoais é praxe na sociedade. Essas infrações ocorrem na sociedade como um todo.
"É importante deixar de demagogia e parar para pensar no que é preciso fazer para aumentar a ética no país", lamenta Silvia.

Apesar de amplamente disseminada na sociedade, a tolerância à corrupção é menor entre as mulheres, os mais velhos e os de menor escolaridade; o que nos aponta um caminho, uma luz.

As mulheres seriam mais honestas que os homens. Os pouco letrados seriam mais honestos que os doutores. E os da melhor idade seriam mais honestos que os jovens. Será? Se assim o for, como será o futuro?

Mas, a pesquisa também alerta para a tragédia da contaminação da juventude mais escolarizada, pelo vírus da ausência de valores morais. Lamentável! Este é um tema a ser mais aprofundado: o que, ou quais valores, estamos ensinando em nossas escolas e universidades?

Voltando à pesquisa, os eleitores entrevistados têm uma reação dúbia em relação à corrupção. Ao mesmo tempo em que condenam as irregularidades, reconhecem que cometeriam atos ilícitos se tivessem oportunidade.

Registro que Luís Carlos Prestes dizia sempre, lamentando: "esse é o povo que temos! ".

Paralelamente a tudo isso, com os partidos políticos em estado de agonia ética e em processo de esfacelamento, as circunstâncias históricas apontam para o surgimento – nas ruas e nas redes sociais – de um novo populismo no Brasil; acima dos partidos e das coligações. Falta brotar uma liderança da geração "X".

É possível afirmar que, nas eleições municipais de 2016, a maioria dos eleitores será pragmática. As razões do voto serão ditadas pelos benefícios que cada um recebeu ou poderá receber. E a visão do que é melhor para o município dependerá da ótica que cada um tem da sua Aldeia e será filtrada pelos próprios interesses.

Resumo da ópera: Tirante uma ínfima minoria, seria utópico pensar que, aqui no patropi, a maioria do eleitorado vota pensando no interesse coletivo. O individualismo é muito mais forte. O Ego é maior que a Polis.

Pergunto: o eleitor é cúmplice ou vítima?

Cá do meu canto, desconfio que tudo isso seja apenas o início de um novo ciclo histórico inusitado, uma espécie de populismo de alta tecnologia, combinado com o poder diabólico da Mídia e da Internet.

Maktub.

Opinião política por Rinaldo Barros