Públio José – jornalista

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De repente, surge a necessidade de algum objeto ser fixado na parede. Começa, então, a busca pelo prego e, em conseqüência, pelo martelo. Encontrados todos os elementos para suprir a necessidade da fixação, inicia-se a grande operação: bater na cabeça do prego para que o tal objeto seja fixado. Aí tem início um grande problema. Estará o pregador do prego devidamente capacitado a executar este trabalho? Não seria melhor convocar alguém do ramo ou, no mínimo, instruir-se melhor para bater no prego, com o martelo, para atingir o objetivo desejado? Dilema, grande dilema! Em razão do tempo, da necessidade urgente da fixação do objeto, da inexistência de alguém mais capacitado para executar o ofício, decide-se, então, pela grande empreitada. O prego é instalado no lugar correto, o martelo é devidamente levantado para desfecho do golpe – que se pretende certeiro. E, e, e, e...


É chegado o momento do encontro fatal entre a falta de capacitação para execução do trabalho e o corajoso gesto de se fazer o que não se sabe fazer. O golpe tão milimetricamente planejado erra o alvo e acerta com toda força o dedo do episódico e infeliz pregador de prego. A dor é lancinante. Na seqüência, a carne, machucada pela falta de destreza, abre-se pela força do golpe. O sangue, com seu odor e cor característicos, aparece triunfante, reclamando sua parte no negócio. Liberto dos limites que lhe são impostos pela pele e pelos tecidos goteja abundantemente para atestar que chegou ao cenário como conseqüência de um gesto mal executado. Sangue é vida. E, no episódio, um pouco da vida do nosso personagem se esvai sem apelação. Mas, interessante, daí não passa. Uma martelada no dedo não causa morte, embora machuque e até ocasione lágrimas, incômodos – e muita dor.

Essa experiência, guardadas as devidas particularidades, é semelhante ao atual momento vivido pelo Brasil. O Brasil pretende fixar na sua parede social, econômica, jurídica, política, eleitoral, a democracia, a ética, a moralidade, o respeito entre os poderes constituídos, o combate à corrução, uma melhor distribuição de renda, mas errou o alvo e acertou o dedo. A pancada não deu para matar, mas originou uma dor de profundas conseqüências e a perda de algum sangue – parte do patrimônio físico e moral que deveria preservar. Entre tantas marteladas brasileiras que erraram o alvo, e acertaram o dedo, destaque todo especial para a entronização, entre outros, de Renan Calheiros como liderança política. A dor, a vergonha, a impotência - lágrimas morais derramadas de difícil cicratização, mesmo que não tenham o condão de levar o país para a UTI dos propensos à morte.

Os sucessivos escândalos ocorridos no Congresso, a debilidade da matriz energética, o analfabetismo, a crônica situação de penúria que aflige a educação, a saúde e a segurança, são marteladas que machucam, que agridem a alma nacional, e impingem aos mais carentes e necessitados a condição da carne dilacerada pela conseqüência das políticas públicas mal conduzidas e mal executadas. Já está na hora do martelo brasileiro passar a ser manejado com competência e seriedade. Para que os pregos nacionais sejam fixados nos lugares corretos, trazendo, com isso, a solução de nossos problemas e não a eternização de carnes dilaceradas e sangue jorrado impunemente. Enquanto isso, a continuidade de Renan na presidência do Senado é como se à carne machucada fosse adicionado a cada dia um elemento nocivo para impedir-lhe a cicratização. Quem vai bater o martelo? Certeiramente, é claro...