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Um dos fortes objetivos de Jesus em relação aos apóstolos era a preparação deles para os tempos futuros nos quais não se faria mais presente em suas vidas – e que seriam fartos em traições, perseguições, julgamentos dissimulados e morte. Entretanto, ao longo da mútua convivência, um fato se estabelecera de tal forma que, predominando, poderia prejudicar o futuro trabalho do grupo: a excessiva dependência de todos a Jesus. Ocorrência natural àquela altura dos acontecimentos, uma vez serem eles homens comuns, ignorantes alguns, desprovidos, até então, de qualquer resquício de poder espiritual. E muito mais ainda em função de terem testemunhado episódios extraordinários, entre os quais a cura de cegos, leprosos, aleijados, a ressurreição de mortos, a conversão de ladrões, assassinos, prostitutas... Fatos a fazê-los ainda mais dependentes diante de convivência tão marcante.

Desapregá-los fisicamente de Jesus – mantendo-os, porém, fieis e alinhados espiritualmente – se fazia fundamental para o sucesso do empreendimento divino, mesmo se revelando missão de difícil execução. Tanto é que, após a crucificação, todos eles (com exceção de Judas, já morto àquela altura) trataram de se esconder das autoridades judaicas e romanas, pois lhes faltava a pessoa confiante, intensa, fascinante de Jesus, tornada imprescindível após três anos de convívio seguro e enriquecedor. Já sabedor das deficiências e fragilidades dos apóstolos, Jesus se antecipa aos fatos (Mateus 11.7b), ressaltando a importância do aprendizado da Palavra e da firme postura mental e espiritual dos agentes que Deus escolhera para divulgar ao mundo seu plano de salvação. E que, ausente Jesus, seriam eles os fieis e resolutos executores de tão importante missão. A arma? A Palavra. Apenas.

Empreitada, convenhamos, de fazer boquiaberto o mais crédulo entre os crédulos, uma vez viver-se uma circunstância em que somente pela força das armas se conseguiria acender em um povo a esperança da vinda de um novo tempo. Daí o que está registrado em Mateus: “Que saístes a ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento?” dizendo de pessoas que se dobram aos ventos das vicissitudes, das dificuldades. E que, aos primeiros sinais dos vendavais da vida, desistem, fraquejam, abandonam sonhos, projetos – deixando-os se esfarelar como capim feito seco pelo passar do tempo. Mais adiante, Jesus repete: “Mas, então, que fostes ver? Um profeta? Sim, vos digo eu, e muito mais do que profeta”. Referia-se a João – o Batista, como exemplo de firmeza na visão, na fé, na concepção espiritual e no destemor com que enfrentara enormes desafios na execução da missão que lhe fora confiada.

Batizar Jesus? João alcançou esse objetivo. Pregar o Evangelho do Arrependimento? Ministrou-o com maestria. Ser o maior entre os nascidos de mulher? Esta qualificação o próprio Jesus lhe imputou. Destacar-se como profeta? Jesus também assim o distinguiu. No mesmo discurso Jesus enfatiza que “o Reino dos céus é tomado por esforço”, referindo-se aos fariseus que impediam o livre acesso a Deus, por se atribuírem intermediários divinos e por infligir ao povo incontáveis sacrifícios – por Jesus já desautorizados. Significando também que a “tomada do Reino” se faz com permanente esforço individual, empreitada reservada, evidentemente, aos que não se dobram, nem se deixam engolfar pelas aflições da vida. Nem por heresias, modismos, relativismos, falsas doutrinas, nem ilusória erudição secular. Ih! Tempestade à vista! Oh! Guru também! Ih! Vem forte vendaval! Vai virar caniço? Vai se esfarelar?

Públio José é jornalista.