NATAL PRESS

Em uma sociedade de consumidores, votar é também um ato de consumo.Em uma sociedade de consumidores, votar é também um ato de consumo.

Não adianta, em uma sociedade de consumidores, votar é sempre um ato de consumo.

Você seleciona o canal, observa a propaganda e é seduzido por algum aspecto do produto político que quer comprar. Depois que o desejo se instala, já era… você empacota seu candidato predileto na embalagem ideológica que mais te apetece e o assume como seu. O preço é barato. Cada candidato vale um voto e você tem a vantagem de devolver o produto quatro anos depois e poder pegar outro, mesmo que seja mais do mesmo.


O único defeito é que não tem garantia. Se o produto vier bichado, é difícil devolver ates do prazo.

O mais espantoso nisso tudo é que essa feitiçaria que alguém algum dia chamou de marketing atua tão bem no mercado consumidor do voto que além de convencer o sujeito a levar o produto eleitoral ainda transforma o consumidor em revendedor imediato. Como em uma grande pirâmide financeira, o comprador passa ser um parceiro do fornecedor, divulgando para outros consumidores titubeantes, as vantagens do produto que adquiriu.

Amigo velho, se Hegel ou Marx, estiverem mesmo certos, e a história caminhar nessa onda de dialética, eu e você estamos vivendo agora um momento de síntese. As velhas oposições do século XIX e XX, que afastavam em espaços divergentes burgueses e proletários dissolveram-se em um imenso campo nevoento; em que habita um raso “consumetariado” partilhante de desejos, sonhos, taras e fantasias de consumo.

A grande mistificação ideológica desses tempos de síntese consumerista aparece na velha crença metafísica liberal que os sujeitos são “Eus” transcendentais, boiando fora do mundo. Eles acreditam mesmo nisso. Os liberais de boa fé juram de pés juntos que os indivíduos podem escolher racionalmente, a partir de uma perspectiva individual privilegiada, movidos pelos imperativos da razão e fundamentados pelo cálculo de vantagens e desvantagens de suas próprias escolhas. Coisas do velho Kant… vale salientar.

É quase um dogma religioso. Uma crença que alimenta o discurso ideológico da eleição como uma opção livre do cidadão em busca do “melhor produto” para seu país, sua cidade, seu estado.

Como qualquer ato de consumo, o voto, nesses tempos de nova síntese, tem ligações fortes com o ato sexual. O prazer do gozo, travestido da euforia do período eleitoral, vem sempre acompanhado da culpa que o endividamento produz quando a reflexão pós-orgástica chega e te faz pensar “que merda eu fiz!”.

Por isso, amigo velho, vamos aproveitar esse período eleitoral para curtir nossa ilusão de transcendência, porque ano que vem, o banco chega pra cobrar a fatura do cartão.



Twitter