Ser poeta é ser um ser infeliz
E só assim sendo ele consegue sê-lo
Serve-se da angústia como combustível do seu ser
Sem ela, é um ser qualquer, um ser comum. E, se for para assim ser, ele foge

Esta é sua sina, posto que...
O poeta se alegra quando a tristeza chega
O poeta gosta do sabor da amargura
O poeta goza quando a solidão lhe invade
O poeta ri quando a dor lhe bate na alma

Ora, pensa o poeta a contemplar o copo vazio…
Ser feliz qualquer idiota o é
Ser doce é ser coisa banal, açucarada
Ser um vivente acompanhado é para limitados de espírito 
Ser dono de uma alma livre é para os fracos que por aí penam

Diz o poeta em voz alta, embargada... 
Que o bom é o fundo do poço
Que o gostoso é o desprezo que ele atrai
Que o ápice da sua vida foi a traição por ele sofrida
Que a desesperança é seu caminho futuro

E não poderia ser diferente...
O poeta escreve com a alma
O poeta deixa fluir seus sentimentos
O poeta não tem limites
O poeta sangra nas letras que vomita

Por isso que nos toca tanto o poeta...
Pois só ele consegue descrever a dor que não sabemos sentir e que fingimos senti-la 
Pois só ele tem o dom de nos liberar as lágrimas represadas que não sabemos chorar
Pois só ele pode desnudar a solidão que de nós toma conta, mesmo quando acompanhados
Pois só ele ama a alma com cuja dona nunca falou e nunca um olhar sequer trocou

Pensando bem, feliz é ele, o poeta
Vive a essência da vida
Saboreia o cotidiano no seu âmago
E, no final, ri de nós, pobres e ignorantes mortais
De nós, que nada sabemos fazer, a não ser simplesmente viver (MW)