NATAL PRESS

Vocês já foram à Tambaba? Aquela praia de nudismo que tem na Paraíba? Pergunto principalmente aos homens. Se já foram, vão entender o que vou relatar. Se nunca estiveram por lá, não vão. É o conselho que dou. Querem saber por quê? Vejam o que me confidenciou um amigo, cuja identidade fica sob total sigilo. Conta ele:

Caro amigo Minervino:

Há uns cinco anos, tive uma namorada daquelas que pensavam que ainda estavam em Woodstock, toda liberal, paz e amor e tinha um desejo quase incontido: passar um fim de semana nessa praia de nudismo. “Quero ficar em pleno contato com a Natureza”, dizia. Depois de muita insistência, resolvi me aventurar nessa, literalmente, nua missão. Pegamos o carro num sábado de manhã e partimos em busca de novas descobertas. Se é que podemos classificar um bando de gente pelada de novas descobertas.

Era isso que até então eu pensava, velho amigo. Chegamos, tiramos a roupa, colocamos numa sacola e fomos expor nossos virgens corpos inteiros à luz do sol. Caminhamos um pouco e nada de diferente. As mulheres não eram lá essas coisas. Na sua maioria feias de doer. Em algumas, os peitos mais pareciam suspensórios. Todas tinham bundas. Se bem que em umas só se via o projeto, tamanha era a falta de carne. Outras, a celulite deixava dúvidas quanto à existência de uma região glútea. Na parte da frente, era um matagal só. Umas tinham mais cabelos “lá” do que na cabeça. Ali sim, merecia um desmatamento. É sério! Passou uma mulata que eu juro que vi saguis pulando de um lado pro outro. Foi então que eu entendi o que era mata virgem. Nada entrava por ali. Isso eu garanto!

Dante de tamanha visão, olhei para a namorada e comecei a achar que ela era a mulher mais bonita que existia. “Sou um cara de sorte”, fiquei pensando, enquanto puxava ela mais pra perto e dava dois beijos no seu cangote. Estava bem de amor!
Mas, meu amigo Minerva, a minha então musa não correspondeu às minhas carícias. Estranhei e percebi que ela estava fazendo o que eu fazia. Ou seja, apenas uma análise dos corpos nus. Só que, no caso dela, os objetos de estudo eram homens. Tudo bem. Olhei à minha volta e não vi nada demais. Tudo do meu “tope” ou menores. Estava tranquilo com relação a isso.

De repente, percebi que ela estava quase que paralisada. Nem pestanejava. Acompanhei seu olhar e vi que, lá na frente, para onde a minha(?) namorada estava com olhos grudados, havia chegado um ônibus cheio de africanos. Era um time de futebol que estava em excursão no Nordeste. Isso soube depois. Estavam todos nus. Continuamos a caminhada e foi aí que entendi o verdadeiro significado da célebre frase: “Uns com tanto e outros com tão pouco”.

Me aproximei e, quando consegui distinguir o que eram as pernas e os “membros” dos caras, puxei a mulher pela mão e disse que “o sol estava muito forte e que era melhor a gente voltar para Natal”. Nem em João Pessoa queria ficar.

Ela parou, olhou-me de cima até aqui embaixo, virou-se para um daqueles camaradas, e, sem cerimônia, soltou minha mão. Assim como se dissesse: “Tá vendo?” Tentei argumentar que eles eram bem dotados porque pertenciam a uma tribo na qual as mães amarravam um coco na cabeça das pirocas dos meninos e por isso elas ficavam desse tamanho. Sua resposta doeu:

- Se é assim, sua mãe deve ter amarrado uma goiaba em você. – foi o que disse aquela ingrata.

Diante de tal afronta e humilhação, disse que ia voltar para casa. Ela respondeu com um balançar de ombros. Puto da vida, dei as costas – o que era um perigo! – e me mandei, deixando, a seu pedido, suas coisas. Fiz o percurso para Natal em menos de duas horas. Queria distância daqueles troços.

Pois é, meu amigo. Sete anos se passaram e nunca mais tinha ouvido falar na tal criatura. Até que fui assistir a uma sessão de cinema de arte e encontrei uma amiga comum. Depois de conversar sobre o filme, ousei perguntar sobre a fulana. Sua resposta:

- Menino! Tá morando numa comunidade quilombola na Bahia. A região é conhecida como “Coqueiros”. Ela me contou que os costumes são os mesmos que foram trazidos da África por um time de futebol que esteve jogando por lá.

- Dei um risinho sem gosto, me despedi e fui tomar um sorvete.

A moça da sorveteria, muito gentil, disse:

- Só tem de coco e goiaba. – respondi em cima da hora:

- Não posso nem ver coco que passo mal. Me dê um duplo de goiaba! (MW)



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