Gonçalo, Leninha & Filhos.

Enquanto isso, tudo corria às mil maravilhas no sítio de Gonçalo e Leninha. O nome do local já tinha sido mudado para “Nosso Ninho”. Gonçalo achou meio afrescalhado, mas cedeu aos gostos da mulher. Pedro, o primogênito, era um menino grande, saudável parecia com o pai. Eles adoraram a chegada dele, mas, como a tesão dos dois era grande, a prole foi aumentando de forma absurda. Para se ideia, teve um ano que Leninha pariu em janeiro um casal de gêmeos – Leno e Lilian – e, quando foi em dezembro, pariu de novo. Dessa vez era uma menina chamada Da Luz. Leninha achava lindo esse nome. “Perfeito para uma dona de um salão de beleza”, sonhava. A casa sempre cheia de gente. Era um Deus nos acuda com tanto menino para dar conta. A mãe de Leninha veio de Campina Grande para ajudar a criar a penca de meninos.

Diante de tanto trabalho, tinham resolvido parar de ter filhos. Foram até um posto de saúde pra ver como faziam. “Parar de trepar, nem pensar”, impôs logo Gonçalo, coisa que Leninha também concordou. O médico, conhecido como dr. JR, disse para Gonçalo que ele deveria usar uma tal de camisinha. Mostrou uma amostra grátis, disse aonde e como colocava. Gonçalo achou a bicha pequena, mas ficou calado. “Deve esticar”, pensou. Depois de tudo dito, ele concordou. Mas, no meio do caminho, uma dúvida surgiu e ele voltou para tirá-la com o doutor:

- Quer dizer que uso essa camisinha e só tiro pra mijar e xamegar com a mulher?

Doutor JR conteve o riso e explicou que era para usar exatamente quando fosse fazer sexo. Gonçalo não aprovou muito a ideia ideia. Para ele era como se fosse chupar confeito sem tirar o papel. Perdia o gosto.

Pois bem. Antes de resolver se Gonçalo iria usar essa camisinha ou não, eles resolveram ter outro bruguelo. Encomendaram naquela noite. Ressalte-se que, quando era pra fazer menino tinha que ser papai e mamãe. Tinham medo de algum castigo. Naquela noite, porém, Gonçalo tomou umas lapadas de cana e a sacanagem correu solta. A última posição foi carrinho de mão.
Nove meses depois, Leninha pariu. Era um menino. Não tinham o nome ainda e ela – que era metida a estudiosa – sugeriu:

- Gongon, porque a gente não bota o nome de um presidente? – Gonçalo ficou olhando pra ela sem entender e ela explicou:

- Um presidente do Brasil. Um que fez um bocado de coisas pelo trabalhador. – ele perguntou:

- E como é o nome desse cabra?

- Getúlio Vargas. Mas fica só Getúlio. Não é bonito? - foi o jeito ele aceitar.

E Getúlio foi batizado e começou a crescer com uns hábitos meio diferentes dos outros irmãos. Gonçalo olhava e não entendia. O menino gostava mais de brincar com as bonecas de Ellis do que com a bola ou aqueles carrinhos dos irmãos. “Danado é isso?”, perguntava-se Gonçalo. Quando ele estava para completar quatro anos, Leninha viu Getúlio escondido vestido com a roupa da irmã. Ela também ficou de orelhas em pé. Meses depois, quando chegaram da feira, lá estava Getúlio penteando os cabelos dos irmãos. Gonçalo foi direto pra capela rezar e Leninha foi até o improvisado salão para dizer alguma coisa sobre aquilo. Mas, quando se aproximou, viu que os penteados tinham ficados cada um mais bonito do que o outro. Ela correu para dar a boa nova ao marido.

- Gonçalo, ele vai ser barbeiro!

– Graças a Deus, - suspirou o pai diante dessa perspectiva.

Ledo engano! Com o passar do tempo, pai e mãe perceberam que Getúlio gostava das meninas só como amigas. Já para os meninos, o olhar era outro. Conversaram com o padre, o pastor protestante e até com uma rezadeira para saber se tinha sido castigo porque ele não fora feito na mesma posição sexual dos outros. Depois de muito ouvir, eles entenderam que existia uma outra opção sexual que também era abençoada por Deus. Foi difícil no começo, mas, aos poucos, eles foram se acostumando e perceberam que o amor que sentiam por Getúlio era igualzinho ao que eles sentiam pelos outros. Ele sempre se mostrou responsável, estudioso e excelente filho.

Assim seguiu a vida do casal. Gonçalo virou empresário, Leninha mostrou-se uma perfeita esposa, mãe e dona de casa. Com relação aos filhos, Pedro, o mais velho, fez Medicina. Os gêmeos, Leno e Lilian, trilharam a carreira musical. Ellis era uma administradora de empresas e Getúlio seguiu sua vocação e tornou-se um dos melhores cabeleireiros do Brasil, tendo rejeitado várias propostas para trabalhar nas novelas da Globo.

Todos felizes, graças a Deus! (MW)

Obs.: todos os nomes dos personagens citados são meras obras de ficção, nada tendo a ver com a vida real.