Chego neste começo de 2015 a 53 anos e seis meses de vida. Quando bem jovem, não era comum meus amigos terem gosto por política. Comecei a ter muito cedo. Lembro que fui orador do meu pré em 80, no IMA, quando o presidente era Figueiredo e o governador era biônico, naquele tempo Lavoisier Maia, pai de uma das amigas formandas.

No púlpito da igreja do Instituto Maria Auxiliadora, diante do então governador, das freiras, familiares e convidados, fiz um discurso político, incisivo, a anistia fazia meses tinha sido decretada, o clima já era de distensão, mas todo cuidado era pouco e ninguém ousava tocar no assunto abertamente. Todos ficaram boquiabertos. Papai me deu uns carões e, internamente, gozava com minha ousadia.

Com o tempo fui gostando dos comunistas, dos socialistas, lendo tudo que aparecia, participando de movimentos, greves na UFRN, passeatas e com o surgimento de Lula e dos movimentos grevistas em São Paulo, fui tomado por intensa paixão. Tudo ligado a Lula me embriagava, como jornalista fazia questão de cobrir suas passagens por Natal, o entrevistando em comício no Alecrim. Era da minoria, vestia camisa, empunhava bandeira e lembro-me de ter participado de uma das primeiras reuniões da fundação do partido aqui em Natal, numa salinha num primeiro andar perto da Igreja do Galo.

O tempo passou e participei das campanhas debatendo, escrevendo artigos, brigando com todo mundo que não era lulista/petista, chegando a ficar com amizade arranhada com muitas pessoas, pois brigava, chorava, esperneava e não acreditava nunca que nem Lula e nem ninguém do PT e nem o partido enquanto instituição política pudesse cometer de forma nenhuma nadica de nada de errado, o PT e Lula eram sagrados, incapazes de malfeitos, pois tudo que ouvia, lia e acreditava era que tudo aquilo tinha surgido justamente para fazer o contraponto das maldades que faziam com os trabalhadores, com o povo, com as instituições etc.

Apesar de nunca ter pensado em ter uma atuação política como vereador ou outro espaço qualquer e nem de ocupar cargos em nome do partido, minha paixão era por um ideal, pela loucura que sempre tive pelo povo, de ajudar, de ser útil, tanto que desenvolvo um trabalho social há 25 anos sem nunca em tempo algum ter recebido um só centavo por isso e nem ter pedido voto para seu ninguém atrelando meu trabalho social aos meus gostos pessoais, por ter a consciência que isso é uma coisa minha, pessoal, mais ligado ao espiritual que propriamente ao político, creditando ao espiritual no que diz respeito a achar que tenho que fazer algo pelo semelhante independente de quem o faça institucionalmente ou pessoalmente.

E esse amor pelo PT foi indo até um dia desses, parecia cego, numa confraria que ia todos os dias numa padaria, brigava, saia puto da vida quando confrontado com o julgamento do mensalão. No meu entender Lula era vítima, todos estavam sendo injustiçados, até que comecei a chegar a casa mais cedo para acompanhar atentamente o julgamento.