Não conhecia a palavra, da primeira vez que a ouvi. A tradução literal seria alguma coisa como “cheque de chuva”. Aprendi na raça, como se dizia antigamente. E me lembrei disso, primeiro, em função de meu artigo de sábado passado neste jornal e, segundo, em razão de um email que recebi de um amigo, repassando email de um seu amigo, que voltou entusiasmado com a facilidade de vida que encontrou nos Estados Unidos. Tudo fácil, sem burocracia, soluções imediatas de possíveis problemas, atendimento vip em todos os lugares. E comenta, mais ou menos na mesma linha do meu artigo citado, as dificuldades que sempre encontra por aqui. Termina seu desabafo dizendo: tive vontade de ir morar lá. E tem razão, pois as coisas realmente funcionam, e bem. E meu amigo perguntava: é verdade? Claro, respondi.

Voltando ao “raincheck”. O ano era 73/74. Meu filho, cursando engenharia, me pediu para comprar uma calculadora eletrônica. Mesmo nos EUA, uma de boa qualidade e com funções cientificas, era ainda muito cara. No Brasil, nem pensar. Procurei e vi um anuncio de uma que resolvia o problema e, ainda por cima, em queima (palavra que não se usa mais, agora é “sale”). O preço de US$240, estava por US$140. Diferença razoável. O anuncio era para o fim de semana. No domingo, fui comprar e tinha acabado o estoque. Com a cara mexendo, perguntei, e agora? Se o senhor aceitar, lhe damos um “raincheck”, e o senhor nos dá seu telefone. Em uma semana, mais ou menos, deve chegar novo estoque. Avisamos e o senhor vem buscá-la, pelos mesmos US$140. Preciso pagar logo? Não, quando vier buscar. E aprendi o que era “raincheck”; um documento garantindo o meu direito a comprar a calculadora pelo preço anunciado, já que a procurara dentro do prazo.

Em português claro, uma “promissória”. Devo, não nego e pago. Só mais uns dias.

Outro exemplo de atendimento. Comprei uma mangueira para aguar o jardim. A bicha furou-se em pouco tempo, dois ou três meses de uso. Comentando com um vizinho que ia comprar outra ele disse: vá na loja onde comprou, leve a mangueira e reclame; eles dão uma nova. Mas, não tenho mais a nota fiscal, nem me lembro direito a data em que comprei. Não tem importância, vá e reclame. Fui, meio encabulado. O senhor que me atendeu apenas perguntou, o senhor trouxe a mangueira? Sim, está no carro. Vá buscar e lhe damos uma nova. Sem mais exigências. Acostumado com as coisas daqui, é de cair o queixo.

Isso, quarenta anos atrás. Hoje, melhorou por aqui, mas as dificuldades para sermos atendidos ainda são grandes, demoradas e incertas. Há pouco tempo, enfrentei um problema com um telefone sem fio. Quebrou ligeirinho e levei mais de um mês para receber um novo, depois de viagens à loja onde comprei, à assistência técnica local, que nada resolveu e eu mesmo fui obrigado a telefonar para o fabricante, que me pediu para mandar o telefone pelo correio – paguei o frete – e depois de um mês recebi de volta. Tive tanta raiva que dei o telefone a um neto, pois só em olhar para ele me fazia sentir mal e pensar que ia ter um enfarto.

Não fiquei morando nos EUA. Poderia, pois a minha função me permitia isso. Voltei, e não me arrependo. Com todas as nossas dificuldades, que vêm diminuindo, devagar, mas vêm, o país para se viver ainda é o nosso. Dou fé.