Ainda não havia me manifestado sobre a Copa. Deixo claro que gosto de futebol, assisto aos jogos que posso, mas não vou aos estádios há anos. Comodismo e, por que não confessar, medo. A insegurança total espanta qualquer um.

Dentro dessa filosofia, não tinha a intenção de ir ao campo. Dalton Filho, que mora em Montreal, veio para Natal. Comprou ingressos para um ou dois jogos, inclusive para mim. Vai me forçar a estar presente, mas sem nenhum entusiasmo.

Hoje, gosto do jogo pelo espetáculo, visto na TV. Torcer com entusiasmo, gritar o nome do time, xingar o juiz, ou me entusiasmar por um ou outro jogador está, há muito, fora de minhas cogitações. Como safenado, evito emoções, e torço hoje pelo time que está vencendo. E, se começar a perder, mudo de lado. Não me arrisco a um enfarte.

Esse campeonato que vai começar agora não me faz vibrar. É tudo uma questão de dinheiro, muito dinheiro, e até os jogadores se preocupam muito mais com o valor pecuniário de suas vitórias de que com o que essa vitória pode representar para os torcedores. Segundo vi em alguns jornais, a primeira coisa que os nossos jogadores discutiram em sua primeira reunião na concentração foi como iriam dividir o bolo. Chegaram a um acordo e só então começaram a pensar nos jogos. E não é só aqui. Dizem também os jornais que os jogadores dos Camarões ameaçaram não jogar enquanto suas pretensões de receita não fossem atendidas.

Talvez exagere. É possível que haja um ou outro jogador que participe por convicção, que esteja defendendo suas cores, que tenha entusiasmo e jogue com o coração. Não duvido que isso ocorra, e vou prestar muita atenção para ver se descubro algum, especialmente no nosso time.

Sempre ouvi que jogadores com raça, com entusiasmo, suando a camisa pelo seu país, são os argentinos e uruguaios. Jogos que tenho assistido, com esses jogadores, me levam a crer que seja verdade essa presunção. Vê-se que jogam com entusiasmo, demonstram enorme esforço, e lutam em campo como se numa batalha estivessem. Veremos.

Conjecturas de quem vai ganhar? Não sei. Os comentários é de que os finalistas serão o Brasil, Espanha, Alemanha e Argentina. É possível. Todos os analistas os consideram como os mais propensos à final. Alguns incluem a Itália. Essa dúvida é o que faz desses jogos uma atração. Óbvio que, para mim, o Brasil é o preferido. Mas, ganhe ou perca, não me bate a passarinha.

Dos legados dessa Copa, de que é o que se fala o tempo todo, um é real. Anunciada há seis ou sete anos atrás, tempo mais que suficiente para estarmos preparados, deixamos tudo para a última hora, como sempre. Ficou claro que, em termos de planejamento, estamos muito mal. Talvez pior do que antigamente. Torçamos para que tudo corra bem. Recebamos bem e com dignidade os visitantes. Depois dos vexames e atrasos, é o mínimo que podemos fazer.

Ontem, assisti o jogo do Brasil. Susto danado com o gol contra. No entanto, consegui superá-lo, quando empatamos e ganhamos o jogo, que não foi lá grande coisa. E pude torcer com tranqüilidade.