NATAL PRESS

Nada como encontrar velhos conhecidos! Este, do qual vou falar, o conheço há bote tempo nisso. E reencontrei-o como resultado de um papo, lembrando as coisas boas da vida, com um grato amigo.

Falávamos sobre os Estados Unidos, como eram e como são hoje, quando nos recordamos dos primeiros livros que, já com alguma lucidez e com um senso critico em desenvolvimento, começamos a ler sobre o país, onde depois viveríamos um certo tempo. Lidos, como disse, bote tempo nisso.

Lembrei-me de Vianna Moog que, no meu entender, escreveu das melhores análises comparando nossa formação e a dos EUA. O livro, “Bandeirantes e Pioneiros”, que li pela primeira vez aí pelos anos tantos, continua uma releitura predileta, pela sua atualidade. Meu primeiro exemplar, de priscas eras, perdeu-se no tempo e no meio das minhas mudanças. Mas, comprei outro num sebo do RS. O guardo com carinho e ciúme.

Mencionou esse amigo um outro livro ontológico, das melhores sobre o país. De um dos mais versáteis escritores, de uma linguagem agradável, de uma prosa gostosa, que você lê de uma assentada. E prolífico. Sua bibliografia é das mais amplas e todos os seus livros, com uma ou outra exceção, dependendo do gosto de cada um, excepcionais.

Falávamos de “Gato preto em campo de neve”. Dos melhores comentários de uma viagem feita aos Estados Unidos. A viagem foi no inverno de 1941. Como não tinha mais o livro, resolvi comprá-lo e o encontrei num sebo de SP. E, na embalagem da compra, inclui também outros dois livros dele que queria reler – “A Volta do Gato Preto” e “Solo de Clarineta”, este uma espécie de auto-biografia, cujo segundo volume já não foi terminado por ele. Falo de Érico Veríssimo.

Na “Volta”, fala de sua vivência como professor universitário na Califórnia. No “Solo”, conta de sua vida e menciona o período que passou como Diretor do Departamento de Cultura na OEA. Quando lá trabalhei, o então Diretor, também escritor, um mexicano naturalizado de origem espanhola, Xavier Malagon, um bom amigo, o havia conhecido e conversávamos sobre ele. Malagon trabalhou com Érico Veríssimo, e é lembrado por ele no “Solo,” quando comenta sua passagem pela OEA. Fui parar na OEA vinte anos depois dele.

Terminei de reler, com grande prazer, o “Gato Preto em Campo de Neve”. O fiz comparando com a minha própria vivência naquele pais e posso afirmar, sem receio, que o que ele descreve e comenta pouco mudou nestes anos todos. Sei, e se sente isso quando se vai hoje aos Estados Unidos, que aquela despreocupação, aquela tranqüilidade e aquela recepção cordial e amiga que se sentia por lá em todos os lugares, não é a mesma. Durante os anos que por lá vivi, nunca, em nenhum lugar, me pediram qualquer documento, inquiriram o que estava fazendo, ou tiveram qualquer desconfiança. O terrorismo teve um reflexo negativo no pais, como não poderia deixar de ser, pois o risco é presente e permanente.

Só um exemplo. Ele conta que visitou a Academia Naval de Anápolis, entrou, andou, virou e mexeu, comeu na cafeteria e foi embora e ninguém lhe perguntou nada. Um dos meus passatempos era levar amigos à essa Academia. Ficavam todos surpresos, e pensavam que eu era o dono. Como Érico Veríssimo, entrava e saída sem uma só pergunta de quem quer que fosse. Os guardas, à entrada, nos viam passar sem sequer parar o carro. E, às vezes, ainda faziam continência. Hoje, com essas ameaças terroristas, não sei. Fiz isso nos anos setenta, vinte anos depois de Veríssimo, e nada tinha mudado.

Mas, reafirmo, revisitar velhos conhecidos é dos maiores prazeres que você pode ter. E, hoje em dia, esse é um dos meus melhores passatempos. Como disse um velho amigo quando conversamos por telefone outro dia e prometi visitá-lo: venha logo, antes que a gente parta. Portanto, não perca tempo e mande brasa.



Twitter