Morreu o maestro italiano Cláudio Abbado, aos oitenta anos. Um dos melhores do século passado. Aos 35 anos, já era o líder da Orquestra do Scala de Milão. Dirigiu orquestras em Londres, Chicago, Viena, e por mais de 10 anos foi o maestro principal da orquestra que é considerada a melhor do mundo, a Filarmônica de Berlim.

Sua morte, que vem sendo lamentada pelos amantes da música no mundo inteiro, me trouxe a lembrança meus tempos de menino e de estudante de piano, curso que não terminei e sinto falta até hoje. Minha professora era Dulce Wanderley, de família tradicional de Natal, e que morava na rua do meu avô, Vigário Bartolomeu. Lutou durante perto de um ano em me fazer pianista, mas a minha preguiça, a falta de interesse, a falta de motivação e a não insistência de minha mãe, que terminou se rendendo aos meus argumentos, para tristeza minha hoje em dia, interrompeu uma carreira de pianista que, confesso, nunca seria brilhante. Sozinho, anos depois, autoditada, aprendi a tocar. Mas toco mal, embora me divirta e, às vezes, incomode os amigos que têm a paciência de me escutar. Mas toco.

Também me lembrei que, numa das muitas tardes em que nos juntávamos para ouvir música, eu e Odilon Garcia fizemos um levantamento dos pianos que existiam na Vigário Bartolomeu. Odilon morava em frente a casa de meu avô, e tinha piano. Na casa de meu avô, vizinha à Escola de Musica, onde hoje é o BNB, havia um piano. Minha mãe e minha tia, tocavam. Os meus tios, Protásio e Veríssimo, tocavam violão. Recordo Protásio tocando ukelele, uma cavaquinho havaiano. E, partindo da Escola, e sem incluir seus pianos, contados até o fim da rua na Ulisses Caldas, encontramos vinte pianos. Hoje, me pergunto, talvez com um certo exagero, para o qual peço perdão, será que existem vinte pianos em residências de Natal? Devem existir, claro, mas proporcionalmente à população, tenho minhas dúvidas.

Estão aí, para mostrar que devo estar errado, não apenas a Escola de Música da UFRN, mas muitas outras particulares, oferecendo cursos à vontade, e os teclados eletrônicos, com preços acessíveis, fáceis de transportar e super versáteis, animam todos a estudarem música. Há, também, ofertas abundantes para muitos outros instrumentos e o número de alunos é crescente. Um sinal positivo, sem dúvida.

No meu tempo de Atheneu, estudei música com o maestro Waldemar de Almeida. Um ano, ou dois, não me lembro bem. Mas me lembro perfeitamente de que não fiz parte do coral formado por ele. Na escolha dos componentes, quando abri a boca, foi logo dizendo – você está fora. O desenvolvimento musical, com cursos oferecidos nos Ginásios, desapareceu, o que prejudicou o desejo de muitos em aprender música. A minha decepção em não fazer parte do coral não justifica a eliminação de Música do currículo (risos). Parece que vai voltar. Seria bom.

Sempre gostei de música. De todos os gêneros, mas especialmente de clássica, bossa nova e jazz. Quando fui fazer mestrado nos EUA, cinqüenta anos atrás, encontrei uma hora vaga e fiz um curso de Apreciação Musical. Depois de assistir uma aula sobre Antonio Vivaldi, famoso compositor italiano do século XVIII, nascido em Veneza, comentava com um companheiro daqui sobre a aula quando um circunstante, também do RN, saiu-se com um comentário, no mínimo, original: Conheci esse cara, era o mestre da banda de música de Mossoró. Silêncio geral. As aulas de música e sua história, no Ginásio, fazem realmente falta.