As notícias são preocupantes. Especialmente para os funcionários. O Estado não vai pagar a folha de pessoal deste mês, dizem os jornais. O Estado nega; sim, vai pagar, sem problemas. Esperamos que sim. 

Não sei se os mais jovens sabem a razão de sermos nós norte-rio-grandenses chamados de papa-jerimum. O termo já não é usado como antigamente. Provavelmente, tampouco conhecem sua origem. Verbete no Dicionário do folclore brasileiro mostra que o nome papa-jerimum surgiu em razão de uma iniciativa do Presidente da província do RN, Lopo Joaquim de Almeida Henriques, que a administrou de 30/8/1802 a 19/2/1806. Mandou fazer roçados de mandioca e melancia (não se falava em jerimuns), para possivelmente pagar os funcionários públicos. No ano de 1906, no Jornal Diário de Natal, o autor da coluna “De meu canto”, de pseudônimo “Neto”, publicou a pretensão do governador Pedro Velho de pagar os funcionários com jerimuns.

Já conhecia essa história. Sempre ouvi comentários de que a nossa Policia chegou a ser paga com jerimuns. Não se sabe se essa forma de pagamento realmente ocorreu e se foi estendida aos demais funcionários.

Agora, quando vejo nos jornais a ameaça de atraso no salário dos funcionários do Estado, mais de cem anos depois de Pedro Velho, vemos como somos capazes de repetir a história. Sempre para pior. Não estou sugerindo que seja adotada essa solução. Longe de mim essa idéia. Mas, parece haver precedentes. Toda essa situação evidencia como uma administração incompetente nos deixa entregues ao “Deus dará”. Não aprendemos nunca.

Todas as manifestações das ruas, todos os protestos, todas as reclamações, parecem passar despercebidas à classe política, que continua agindo como se fossem inexpugnáveis e estivessem acima do bem e do mal. Como se estivessem a dizer “isso não é comigo”. Uma tristeza.

Mas, enquanto há vida, há esperança, diz o velho bordão. E os brasileiros vivem, há muito, de esperança. Acreditam até que Deus é brasileiro. No final, crêem, tudo dará certo. Talvez, com a visita do Papa, a mente e o comportamento de nossos políticos (ia escrever dirigentes, mas achei demais), se modifiquem, se iluminem. E que a governadora arranje “plata” para pagar as contas, se é que o problema existe, como propalam os periódicos. E os cortes orçamentários que aparecem neles nos deixa pensar que sim, existem.

Dalton Melo de Andrade é escrevinhador