Lembrei-me da música que identificava o grupo de Zé Menininho: Caixão de Gás. Mas a estória de hoje é outra. De uma figura que foi folclórica na Ribeira, mas também em toda a cidade.

Dias atrás, Woden Madruga lembrou-se dele e comentou algumas de suas estórias: Luiz Tavares. Era amigo dos meus tios Protásio e Veríssimo (Vivi), e o conheci através deles. Embora houvesse uma razoável diferença de idade, fizemos uma boa amizade. Também sempre o encontrava na casa de Odilon Garcia, que costumava reunir os amigos em sua casa, nas sextas, e Luiz era sempre uma presença agradável. Tinha uma boa voz, tocava violão, e sabia, como amigo que era de Silvio Caldas, todas as suas músicas. E tinha um papo ótimo.

Vou contar apenas duas estórias. Uma acontecida comigo há mais de quarenta anos, e a outra ainda mais antiga.

Luiz era figura sempre presente nos cabarés da Ribeiras. Quando chegava, dominava o ambiente, pelo seu físico, sua verve e seu vozeirão. Chegou na Pensão Estrela, que ficava na Almino Afonso, e encontrou dois sujeitos, já embriagados, fazendo barulho e estripulias. Quando terminavam uma cerveja, jogavam a garrafa no chão, que se espatifava e sujava tudo. Sentou-se numa mesa perto e começou a ficar com raiva das figuras, dois marmanjos com cara de marinheiro, provavelmente de algum navio que estava no porto. Naquele tempo, chegavam por aqui muitos navios.

Às tantas, não teve dúvidas. Chamou o garçom, pediu uma vassoura e uma lixeira. Foi até a mesa das figuras, pegou cada um pela camisa, levantou-os da mesa e disse: vão varrer a sujeira que vocês fizeram, agora. Depois, paguem a conta e saiam. Os caras, espantados, vendo o físico e a força de Luiz, pegaram a vassoura e limparam tudo. Pagaram a conta e foram embora.

A outra foi comigo. Era Secretário de Educação de Cortez Pereira. Função complicada, trabalhosa, não tinha um minuto em que não fosse procurado por alguém. Por isso, como não tinha tempo de resolver as coisas durante o expediente normal, ficava até oito, nove da noite. Comigo, ficava Laércio Segundo, Chefe de Gabinete e grande figura, que muito me ajudou.

Um dia, me disse: está chegando de Caicó, um ex-padre, Celestino, que poderia nos dar uma grande ajuda, atendendo as pessoas que lhe procuram e encaminhando para o senhor somente as que realmente têm assuntos importantes. Com a experiência do confessionário, resolve ou encaminha para onde for, as demais.

Funcionou, e me deu um alívio danado. Um dia, Celestino entra apressado na minha sala. Professor, tem um cara grandão aí fora, que se diz seu amigo e quer falar com o senhor urgente. O nome dele é Luiz Tavares. De Caicó, não conhecia a figura. É meu amigo, mande ele entrar.

Entrou e foi logo dizendo: só você pode evitar que me torne um assassino; estou sendo perseguido na Fazenda e quero sair de lá, antes que mate algum dos meus desafetos. Você vem trabalhar comigo, na merenda escolar (o filho dele era o gerente do setor). Vou falar com Cortez e o Secretário agora e amanhã você já vem para cá. Falei com ambos, Cortez concordou na hora. Achando muita graça na estória. O Secretário também, um alívio para ele.

No outro dia, estava comigo e sempre que viajava para o interior, o levava para fiscalizar a merenda da escola visitada. Mas, muito mais pelo papo agradável e exagerado dele.