Fui um dos que lamentou a não-reeleição de Amanda Gurgel (PSTU) à Câmara Municipal de Natal. Tanto pelo fato dela ter tido a segunda maior votação (8.002 votos) entre os candidatos, como por ter sido boa vereadora, que defendeu as causas para a qual foi eleita e não se furtou a debater os temas que propôs e a "peitar" vereadores tradicionais e anacrônicos, como Luiz Almir.

Percebi que a indignação maior dos eleitores e fãs da vereadora foram em relação à injustiça da votação excelente não lhe render a continuidade como vereadora. Não deixam de ter razão. Obter 8.002 votos e ver vereadores como Sueldo Medeiros (PHS) eleito com 1.829 votos ocuparem seus lugares parece e talvez seja uma aberração.

Explica-se: os outros candidatos a vereador do PSTU não conseguiram somar junto com Amanda a quantidade mínima de votos - 12 mil para eleger um edil -  para atingir o quociente eleitoral. O total do partido foi de 10.074.

Eu, particularmente, sempre fui contra o famigerado quociente eleitoral. Sei de suas  - relativas - boas intenções. Visa garantir que um partido, uma ideologia, uma ideia, tenha espaço no Legislativo. O quociente eleitoral visa favorecer a questão da proporcionalidade partidária, consequentemente a representatividade. Na teoria, uma iniciativa democrática. Na prática, gera aberrações como Amanda não ter sido eleita, e outras mais, como os candidatos com pouquíssimos votos elevados a deputados federais por Tiririca e Enéas Carneiro, por exemplo.

Eu disse no parágrafo anterior que sempre fui contra esta regra. Ao contrário de quase todos os militantes, políticos e partidos de Esquerda (como o PSTU), que defendem o quociente. Mas, não desejo sequer entrar neste mérito, que já daria um outro texto.

Não faltou quem lembrasse que o PSTU, em conflito interno, se isolou e partiu para uma camicase aventura solo. O professor e roqueiro Giancarlo Vieira, registrou em sua página no Facebook que  "o PSTU é o único partido do mundo vítima de seu próprio lema Fora Todos... Enquanto a esquerda não se conscientizar que seu purismo ideológico não se estende à direita organizada, unida e sem escrúpulos, o resultado vai ser este"

Também na rede, o advogado Daniel Costa postou que "Amanda Gurgel foi eleita vereadora por força da mídia. Agora, apesar dos votos, ela mostrou não possuir uma qualidade fundamental do ser político: a capacidade de articulação. De que adianta um turbilhão de votos, se lhe falta aptidão para fazer prevalecer os interesses dos seus eleitores, através do trabalho de articulação com os demais partidos?"

Em suma, muita gente teve a percepção que a estratégia do partido foi suicida. E a regra do jogo - que acho errada, repito - era conhecida da sigla e da vereadora. Detratores dela, sentenciaram que ela esperava ter novamente os 32.819 votos que a consagraram e, por isso, acreditava não apenas se reeleger como ainda "arrastar" outro vereador do PSTU, como fez em 2012 com Marcos Antônio e Sandro Pimentel, ambos do PSOL, e o segundo, ironicamente, reeleito.

Mas, quero direcionar o raciocínio agora para o que dá título a este texto: a indignação.

Testemunhei nas redes sociais, muita, mas, muita gente mesmo indignada com a não-reeleição de Amanda. Com razão, como já disse antes. Mas, agora a pergunta em tom de provocação: o que este eleitorado - pelo menos 8 mil natalenses e entre abstenções e moradores de outros municípios potiguares, muito mais gente - farão com essa indignação agora?

A usarão apenas para vociferar durante uns dias no Facebook e nos grupos de zap? Ou a usarão em 2018?

Sim, pois 2018 é a próxima eleição. E deduzo que os eleitores de Amanda votarão em candidatos a deputados estadual e federal e senador que sejam comprometidos com uma reforma política que inclua o fim do quociente eleitoral.

Mas, aí que mora o problema: boa parte dos eleitores de Amanda ou são do PSTU e portanto, comungam do "Fora Todos" que não se adequa à política, posto que sozinho não faz nada na política ou são "apolíticos" e apostaram na vereadora como a "não-política", portanto, não votariam em candidatos da "política velha", sejam do PT, sejam do PSDB. E quantos deputados federais o PSTU tem? Nenhum.

Em suma: o eleitor de Amanda que está espumando de raiva nesta semana tende a joga-la na vala comum do Fora Todos, que iguala, para dar um exemplo nacional, um Eduardo Suplicy a um Eduardo Cunha. Indignação é bom, mas, quando sem utilidade prática, morre nos comentários de posts de Facebook.